O ano de 2006 promete ser
"quente". Não me refiro às eleições gerais, mas aos desafios e
novas ameaças a nossos direitos, que já despontam na linha do horizonte
visível.
No âmbito federal, poderá ir a
voto no Congresso Nacional, já no primeiro semestre, a terrível PEC n°
157/03 que, conforme noticiamos neste espaço, na edição anterior, atribui
poder "constituinte revisor" aos senadores e deputados federais a
serem eleitos em 2006. Para facilitar a tarefa socialmente regressiva de
suprimir direitos (não é outro o propósito), essa PEC institui um quórum
rebaixado, de maioria simples, para a aprovação de cortes e remendos em
nossa Constituição.
A plutocracia econômica mais
retrógrada – como sempre, pescadora em águas turvas – tentará se
aproveitar da fragilização institucional decorrente da crise política
("mensalões", caixas 2 etc.) para fazer passar essa poção
venenosa como se fora panacéia para os males da República. Um golpe –
sem, desta vez, precisarem mandar tanques às ruas. A oposição de direita
esfrega as mãos entre risinhos de contentamento, enquanto o governo federal
e sua base parlamentar fingem-se de mortos, como se, novamente, não
tivessem qualquer responsabilidade.
Esta combalida classe média e os
trabalhadores em geral, tanto do setor público quanto do privado, poderão
perder muito. Menos direitos, mais lucros, é esse o plano. Se for
perpetrado, ganhará velocidade nosso curso de desmoronamento social em
direção à barbárie.
Retornando a São Paulo, anotem: o
governo tucano acendeu de novo o gás de seu forno de maldades contra os
servidores. Seu projeto de lei complementar n° 30/05, criando uma autarquia
especial para gerir um fundo de previdência do funcionalismo estadual,
está na iminência de ser votado. Desmonta o Ipesp, transfere seu
patrimônio e todas as contribuições previdenciárias dos servidores para
a nova autarquia – que, é claro, será dirigida majoritariamente por
gente indicada pelo governador.
Detalhe relevantíssimo: o PLC não
diz uma só palavra sobre a dívida histórica do Estado para com o Ipesp
(mais de 60 bilhões de reais) decorrentes das contribuições
previdenciárias de responsabilidade da Administração que jamais foram
recolhidas. Caso o governo consiga institucionalizar esse
"calote", o fundo previdenciário a ser criado já nascerá
gravemente descapitalizado. E, como a Constituição exige que ele opere em
regime de equilíbrio atuarial, esse "calote" abriria o caminho
para a rápida elevação da atual alíquota de 11% paga pelo funcionalismo.
Não esqueçamos que, em 1999, o governo tucano já havia tentado elevar
para até 25% dos salários as alíquotas das contribuições
previdenciárias dos servidores. Parece que se prepara de novo para dar esse
bote.
Ainda em São Paulo: o ano vindouro
será decisivo para nossa batalha pela reconquista da paridade
remuneratória com as demais carreiras jurídicas do Estado – uma batalha
e tanto. Assim como será decisivo para o nascimento da Defensoria Pública.
Para não falar do projeto de reforma da Lei Orgânica da PGE, que anda
coberto de poeira e de tantos outros assuntos.
O ano de 2006 promete mesmo ser
"quente". Precisaremos de muita união entre nós, de muita
generosidade, energia e combatividade. Mas estou confiante: sempre que se
viu face a desafios nossa carreira encontrou forças no coração para
travar a boa luta!
Feliz Natal a todos! Que 2006 seja melhor para a humanidade!
José Damião de Lima Trindade
Presidente da Apesp