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Todos pelo Estado. Mas o
Estado...
A Procuradoria
Judicial se empenha para defender os interesses da Administração
Pública. O mais difícil embate, no entanto, é contra a falta de
estrutura
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Ela
representa a Fazenda do Estado em juízo, como autora, ré,
assistente ou oponente, nas ações cíveis, trabalhistas e em
processos especiais, tais como ações civis públicas e
ações populares. Defende o Estado em ações movidas por
funcionários públicos e por particulares. Atua, também, nos
mandados de segurança e mandados de injunção impetrados
contra autoridade estadual, exceto aqueles relacionados com
matéria tributária, financeira ou do patrimônio
imobiliário. A PJ acompanha, ainda, os recursos, em matéria
residual, originários das procuradorias regionais interpondo,
quando é o caso, novos recursos aos Tribunais Superiores. |
Márcia,
PJ-3: desde 1990, os
processos
quadruplicaram |
Carmem,
procuradora-chefe:
em 3 anos muita coisa mudou |
Na prática, essa
definição das funções da Procuradoria Judicial da PGE significa
dar conta de todas as ações movidas contra o Estado ou por ele na
Capital – mais de 105 mil –, ou seja, todo o contencioso do
Estado que tramita na Comarca de São Paulo, exceto o tributário, o
imobiliário e o ambiental.
Só de servidores públicos
ativos e inativos, estima-se um potencial de mais de um milhão de
pessoas que podem, um dia, acionar ou ser acionados pelo Estado.
Para dar conta de tudo isso,
a PJ conta com 88 procuradores – distribuídos em sete
subprocuradorias – responsáveis, em média, por 1.200 processos
em cada banca. Eles ocupam seis andares de um prédio na rua Maria
Paula, centro de São Paulo, mas já há planos de mudança para um
edifício mais amplo, na mesma rua. Afinal, a partir de março de
2006, estarão a cargo dos procuradores da Judicial também as
ações de 15 autarquias do Estado, a exemplo do Hospital das
Clínicas. Das sete subprocuradorias, quatro delas (PJs 1, 3, 4 e 5)
cuidam de ações propostas por servidores, a PJ-7 das ações
movidas por celetistas, a PJ-2 das ações relacionadas à
responsabilidade civil do Estado e a PJ-6 é responsável pela
propositura das ações. Com os novos processos – é impossível
precisar, ainda, quantos serão – a PJ deve ampliar seu quadro em
28 cargos, dos 100 procuradores que devem ingressar na carreira em
concurso que já vem sendo realizado. De acordo com a
procuradora-chefe Carmen Magali Cervantes Ghiselli, mesmo com o
ingresso dos novos colegas a transição será bastante complicada.
"Vai ser um começo difícil, como tudo que é novo. Vamos ter
que saber como os expedientes eram instruídos nas autarquias e se
havia uma rotina administrativa ou procedimento seguido. Há
necessidade de preparar os colegas que vão chegar para lidar com as
especificidades da legislação e do processo do trabalho, montar um
curso para preparar esses procuradores, sejam eles novos na
carreira, ou por remoção."
Facilidade, aliás, é uma
palavra quase impronunciável na Procuradoria Judicial. À imensa
carga de trabalho a que cada procurador está exposto soma-se a
falta de funcionários que obriga, muitas vezes, os profissionais da
PJ a perder tempo precioso fazendo cópias, montando ou arquivando
peças. Há uma média de dois funcionários para cada 15
procuradores. "Temos que, por exemplo, contratar gente de fora
para fazer o arquivamento, o que pode nos causar problemas, mas não
temos outra alternativa, ou o trabalho pára", conta Márcia
Semer, uma dentre os 14 procuradores da PJ-3 que cuida das ações
dos servidores da Polícia Militar.
Se falta gente para
trabalhar, falta também dinheiro e, muitas vezes, é do bolso dos
procuradores que sai o táxi do estagiário que precisa se deslocar
à Justiça Militar ou à Justiça Federal. "Os processos são
grandes, pesados e não temos uma viatura à disposição. Xerox no
tribunal também é pago por nós. Em suma, funcionamos como se
fôssemos donos da advocacia do Estado. Não há estrutura mas somos
cobrados, tudo tem que estar certinho", destaca Márcia Semer.
A chefia da PJ afirma que as
despesas com xerox são totalmente ressarcidas com a apresentação
da nota comprobatória ao setor de finanças. E que há uma viatura
que pode ser solicitada para o transporte de autos, quando
volumosos, da Justiça Trabalhista, Militar e Federal.
Demanda desorganizada -
O
procurador Luiz Duarte de Oliveira concorda com a colega da 3. Ele
é responsável pela PJ-2 e cuida, com mais 14 procuradores, das
ações da Fazenda ré, ou seja, todos os processos movidos contra o
Estado que não sejam de servidores públicos. É lá que está o
maior aumento de demanda dos últimos tempos. "Faço tudo que
os outros não fazem: é o residual do residual. Vai da defesa dos
atos administrativos e das políticas públicas à multa de
trânsito que está dificultando o licenciamento de um
veículo", conta Luiz Duarte. Foi a PJ-2 que, a partir de 2004,
agregou a maior parte dos mandados de segurança contra o Estado.
"O setor cresceu muito, mas a estrutura não corresponde. São
45 novos processos por mês para cada procurador o que perfaz bancas
de 1.300 até 1.500 processos. Isso é irreal, ninguém consegue
fazer tantos processos, o que nos desespera, já que são questões
economicamente cruciais para o Estado, liminares que atravancam
planos de governo, por exemplo", ressalta o procurador. Além
da defesa de atos administrativos das mais diversas envergaduras –
licitações de obras, serviços e produtos, contratos, destinação
de receitas públicas vinculadas, concursos públicos, sistema
prisional, ações diretas de inconstitucionalidade – os
profissionais da PJ-2 são bastante exigidos em ações sobre o
fornecimento de medicamentos, tratamentos e transplantes de
órgãos. "A Constituição de 1988 garantiu alguns direitos
aos cidadãos e esse é um movimento que só tende a crescer, porque
cresce a consciência de cidadania", avalia Luiz Duarte.
"O Estado foi avisado que isso iria acontecer, mas foi
absolutamente incompetente em debelar o problema do fornecimento de
medicamentos, por exemplo. Criamos o advogado de fila de
hospital", completa.
Essa falta de organização
do Estado também é destacada pelo procurador Carlos Toledo, que
atua com outros 13 colegas na PJ-4 onde se cuida das ações movidas
por professores da rede estadual. "A gestão de recursos
humanos não conversa com o contencioso de recursos humanos do
Estado. Às vezes tem ações que estamos ganhando e eles reconhecem
o direito na esfera administrativa. Outras vezes, insistem em
posturas que já foram repudiadas pelo Judiciário", descreve
Toledo. As causas disso, para ele, além da falta de comunicação,
estão no gigantismo do Estado e no imediatismo. "Em vez de
atuar preventivamente, é mais fácil deixar a conta para o
próximo", diz Toledo.
A procuradora Hilda Siemons
completa: "Há no Estado o mesmo raciocínio da seara
consumerista: espera-se que só 10% a 20% das pessoas venham a
reclamar. Um exemplo? As ações por reajustes anuais. Mas o fato é
que a população cresce, o número de processos também e o de
procuradores não acompanha."
Poucos para tanto - Os
dados comprovam o que Hilda e os procuradores da Judicial sentem na
pele. Em 1996, a PJ recebia 5.330 novas ações. Esses números se
mantiveram estáveis até 2002. A partir de 2003, o volume subiu
para 12.248, com a incorporação dos mandados de segurança e,
sobretudo, em razão das reformas constitucionais que motivaram um
expressivo número de ações movidas por servidores. Em 2004 eram
18.855 novas ações e este ano, de janeiro a setembro, já são
14.833. O quadro de procuradores cresceu, mas numa proporção muito
menor. Em 2002 havia 69 profissionais, quando chegaram mais sete
junto com o acervo de 17 mil ações de mandado de segurança.
Outros 12 procuradores chegaram em 2004 e um foi afastado. O quadro
atual de 88 está muito aquém do necessário para o desenvolvimento
de um trabalho de qualidade.
"Quando entrei, em
1990, minha banca não chegava a ter 300 processos. Em 15 anos esse
número quadruplicou", diz Márcia Semer. "Fazemos o que
dá, mas isso é muito frustrante. Não podemos nos reciclar,
participar de cursos com essa estrutura. As relações aqui dentro
estão se esgarçando, os nervos estão à flor da pele",
avisa. "É o desamparo institucional", faz coro Luiz
Duarte. "O Estado diminuiu, mas as demandas ficaram mais
complexas", avalia Iso Chaitz Scherkerkewitz, procurador da PJ-6
que, com outros cinco colegas, responde pelo setor incumbido da
propositura de ações do Estado contra terceiros, conhecido na
Judicial como o setor "Fazenda autora". "Tem crime,
internet, batida de carro, contrato não cumprido. São ações
diferenciadas em que temos de propor, analisar, correr, dar
andamento. O impulso do processo é do Estado. Se demorar muito a
testemunha desaparece, o estabelecimento comercial fecha. Do outro
lado, estão os escritórios particulares que têm uma estrutura que
a gente não tem. Essa história do Estado mínimo é mínimo mesmo.
Uma estrutura cada vez mais enxuta em que há aparato para se
defender, mas não para agir", avalia Iso.
As subprocuradorias que
acompanham ações movidas por servidores públicos foram
extremamente impactadas pelas reformas constitucionais. O teto
salarial, a majoração da contribuição previdenciária, as
complementações de aposentadoria e pensão ensejam grande número
de incidentes processuais, cada vez mais complexos. Além das
ações movidas por servidores, há um grande número de ações
movidas por celetistas e todos aqueles que mantiveram algum contrato
com o Estado e exigem vínculo empregatício. "Quando uma
empresa terceirizada que trabalhou para o Estado quebra, os
funcionários nos acionam. Também tratamos da complementação de
aposentadoria e dos dissídios coletivos", conta Maria Sílvia
Goulart, que atua na PJ-7 com outros seis procuradores.
Na impossibilidade de conter
toda essa demanda, a chefia da Judicial tem adotado providências
para tentar conter a sobrecarga de trabalho dos procuradores. Por
exemplo, a autorização para não mais recorrer em alguns casos, o
que tem resultado em orientações normativas de extrema
relevância. "Queria trabalhar com estabilidade para ver os
frutos, queria ter pelo menos um mês igual ao outro", diz a
procuradora-chefe Carmen Magali.
Enquanto isso não acontece,
ela mantém um otimismo incansável e trabalha buscando facilitar a
vida dos procuradores que estão sob a sua
direção. "Aumentamos o numero de
estagiários de 70 para 85 no ano passado e já encaminhamos
pedido de aumento do número de vagas para 120.
Conseguimos trazer servidores de outras secretarias para
trabalhar na Judicial. Mantemos, com nossos
estagiários e servidores, serviço de retirada
de autos na Vara da Fazenda Pública e devolução de autos no
TRT. Temos tratativas com a presidência do TRT para
implementar a retirada de autos também na Justiça do
Trabalho, bem como para obter uma sala para os
nossos procuradores no Fórum Trabalhista, o que muito
facilitará o dia-a-dia dos colegas. Além de
disponibilizarmos scanners portáteis para cada uma das
subprocuradorias, locamos impressoras que funcionam
como copiadoras, scanners, fax. Isso representa
uma melhora de difícil dimensão: eliminamos os
problemas de falta de toner e reposição de peças. Há
perspectiva de que em breve todos aqui estejam em condições
de igualdade de trabalho, com pequenas reformas nos andares
e troca de mobiliário e equipamentos", elenca a
procuradora. "Sei que para o
procurador que está na banca parece que a vida nunca
melhora. Mas antes precisávamos checar no protocolo
sobre a existência ou não de uma ação. Com o cadastro
de todo o acervo de ações antigas pela Prodesp
e dos mandados de segurança pelos nossos servidores,
hoje basta acessar o computador para saber inclusive quem é o
colega responsável pela ação. Gerencialmente tudo isso dá uma
satisfação muito grande, Em três anos muita coisa mudou. Sei que
vamos avançar ainda mais."
ALGUNS CASOS DA JUDICIAL
Todo
o processo de privatização das Companhias de
Energia foi acompanhado pela PJ-2, que se organiza para
a privatização da CTEEP (empresa paulista de transmissão)
prevista para o início do próximo ano. Não raro, os
sindicatos e autores populares ajuízam ações, tentando
impedir a alienação, às vésperas do leilão, o que
impõe aos colegas elevada carga de trabalho e de stress.
No
mês de outubro, a atuação da unidade foi extremamente
importante para garantia da alienação de ações da Nossa
Caixa, feita por meio de oferta pública. A operação
ocorreu, com enorme sucesso, no dia 26, na cidade de Nova
Iorque.
A
realização da Copa Mundial de Ginástica, no início deste
ano, esteve em vias de não se realizar quando, às
vésperas do evento, foi solicitada inspeção judicial no
Ginásio do Ibirapuera que resultou em sua desinterdição.
Acordo judicial celebrado nessa ação viabilizou a
realização de outros dois grandes eventos: Liga Mundial de
Vôlei e Criança Esperança.
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