Editorial
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Dignidade remuneratória ou
arrocho salarial: hora da luta
Sem
ilusões: se não revertermos neste mesmo ano a política de arrocho
salarial inaugurada pelo governo do Estado contra nossa carreira, entraremos
em plano inclinado de achatamento salarial crescente e quiçá duradouro.
Esse risco é muito real. É sempre
bom recordar: houve um momento, entre o final da década de oitenta e
início da década de noventa, em que a ação corrosiva da inflação –
diuturna, implacável – combinada com reajustes insuficientes para repor a
perda de nosso poder aquisitivo, conduziram-nos a uma situação humilhante
e exasperadora. Os mais antigos na carreira viveram isto: chegamos a receber
remuneração equivalente, até inferior, à de um motorista de ônibus da
extinta CMTC. Ser procurador do Estado tornou-se, então, uma mera passagem
para outras carreiras jurídicas – um êxodo interminável tomou conta da
PGE.
A partir de 1995, conquistamos a
paridade remuneratória com as demais carreiras jurídicas, mesmo à custa
do surgimento dos "resíduos" da verba honorária – que nunca
nos foram restituídos. Mas, no final de 2000, perdemos a paridade. No
primeiro semestre de 2002, veio a política de reajustes anuais da verba
honorária, supostamente pela "média" de seu crescimento no ano
anterior. Afirmava o nosso procurador-geral que essa sistemática seria o
caminho mais viável para reconquistarmos a paridade. Mas a matéria da
página 3 desta edição demonstra que aquela "média" nunca foi
efetivamente cumprida e que, a cada anistia fiscal do Estado, nossa verba
sofria "expurgos" que jogavam a "média" sempre para
baixo.
Mesmo assim, malgrado dúvidas, boa
parte dos integrantes de nossa carreira acabou dando, tacitamente, um voto
de confiança a essa sistemática defendida pelo atual procurador-geral.
Muitos dentre nós pensavam: "Quem sabe não seja mesmo esse o caminho
para recuperarmos a paridade?".
Contudo, agora, a realidade, áspera e
crua, não deixa mais ilusões: apesar de já terem sido acumulados mais de
R$ 80 milhões em resíduos da verba honorária – isto, apenas desde que
essa política de "médias" foi adotada – acabamos de ser
punidos com esse infamante reajuste ZERO. Sem meias palavras: a sistemática
das "médias", mesmo de "médias" irreais, foi
literalmente para o espaço, e o "acordo" entre o PGE e o
governador para mantê-la tornou-se, na prática, letra morta. Adentramos
numa espécie de limbo, cujo nome não pode ser outro, senão arrocho
salarial.
É só fazermos as contas: para
recuperarmos a paridade salarial com as demais carreiras jurídicas, seria
necessária a imediata revalorização das cotas da verba honorária em
cerca de 19%. Apenas para repor a inflação de 2003, essa revalorização
deveria ser de, aproximadamente, 12% nessas cotas (o que redundaria num
reajuste de 9% sobre o total de nossa remuneração). Ou seja: esse ZERO
não significa apenas que não teremos reajuste. Ao contrário, significa
que acabam de incorporar à nossa remuneração uma redução de no mínimo
9%, que foi a inflação aproximada de 2003. Se também adicionarmos a
inflação destes primeiros cinco meses de 2004, nossa redução salarial
já se alça para algo entre 12% e 13%, dependendo do índice tomado.
Portanto, ilusões desfeitas, nossa
carreira está frente a uma encruzilhada crucial: resignação ou combate.
Ou passamos à luta coletiva e firme, pelos meios e modos que
democraticamente escolhermos na Assembléia Geral Extraordinária já
convocada pela Apesp, ou nossa dignidade remuneratória não passará de
lembrança. Ao contrário do que desejariam os que decidiram arrochar nosso
salário, podemos, sim, ser agentes de nosso destino, podemos escolher nosso
caminho. Que seja o da luta!
José Damião de Lima Trindade
Presidente da Apesp
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