|             
      
     
      
    Direitos
    Humanos terão jurisprudência global 
     
    
     
    Apesar
    de o Direito Internacional viver espremido entre as diferenças culturais
    dos povos e um padrão mínimo de garantias fundamentais essenciais ao ser
    humano, a professora e procuradora do Estado de São Paulo Flávia Piovesan
    aposta na solidificação de uma jurisprudência global sobre Direitos
    Humanos. Para tanto, a ausência de uma força militar que garanta a
    efetividade das decisões das cortes internacionais não faz tanta falta. A
    credibilidade que as cortes regionais — como a Europeia, a Interamericana
    e a Africana — já têm  é
    meio caminho andado, acredita. “O Estado de Direito é aquele em que o
    ‘poder desarmado’, que é o Judiciário, tem a última palavra. Não é
    a faca, não é a bala, é a caneta, o que pode ser ampliado a todas as
    esferas: local, regional e global.” 
     
    
     
    A
    visão otimista é de uma estudiosa que tem dedicado a vida a pesquisar os
    Direitos Humanos. Professora doutora da Pontifícia Universidade Católica
    de São Paulo e do Paraná, Flávia Piovesan divide seu tempo entre a
    Procuradoria do Estado de São Paulo, as aulas no Brasil e palestras e
    estudos ao redor do mundo pela Organização das Nações Unidas. Seu
    trabalho foi reconhecido este ano pela comunidade jurídica, que cogita seu
    nome para ocupar uma possível vaga a ser deixada pela ministra Ellen Gracie
    no Supremo Tribunal Federal. Em entrevista à Consultor Jurídico, no
    entanto, a procuradora disse não acreditar que vai ser convidada para ser
    ministra. "Meu compromisso é com os Direitos Humanos, área em que
    tenho competência para trabalhar. Tenho que aprender muito ainda para lidar
    com as outras áreas." 
     
    
     
    A
    procuradora explica que a aceitação multilateral de uma Justiça global
    passa por uma redução da disparidade econômica entre as nações. Um
    desenvolvimento menos desigual entre os povos, nesse caso, garantiria
    vantagens econômicas e sociais de uma forma geral, contrariando a velha máxima
    de que, para haver ricos, é necessário que haja pobres. Segundo Flávia, o
    mundo chegou a um ponto da História em que as plataformas econômicas e
    sociais começam a convergir. 
     
    
     
    No
    campo dos Direitos Humanos, o ganho é ainda maior. Temas que antes eram
    reputados como de competência exclusiva de políticas públicas, como o
    combate à pobreza, ganham espaço nas definições quanto aos direitos
    fundamentais do homem. “A pobreza já foi vista como crime de vadiagem.
    Hoje, há projetos que tentam colocar a pobreza como violação aos Direitos
    Humanos. Direitos sociais devem ser vistos como direitos, não como
    generosidade, compaixão ou caridade”, afirma a especialista. 
     
    
     
    Flávia
    considera que a falta de recursos financeiros é um dos fatores que mantêm
    o abismo entre a população e o Judiciário. Segundo a procuradora, apenas
    30% dos brasileiros têm acesso à Justiça, a maioria deles das regiões
    Sul e Sudeste, onde as taxas de Índice de Desenvolvimento Humano são as
    maiores do país. “Isso tem haver com educação e percepção dos
    direitos.” Flávia é favorável a ações afirmativas como a Lei de Cotas
    para negros nas universidades públicas. O fato de 74% dos pobres serem
    afrodescendentes, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica
    Aplicada, são motivo suficiente para a tomada de medidas que abram acesso
    imediato a centros de pesquisa e de discussões intelectuais a esses
    desprestigiados. 
     
    
     
    Em
    entrevista à Consultor Jurídico, a procuradora também comentou a recente
    abertura do Supremo Tribunal Federal aos temas ligados aos Direitos Humanos
    e se disse devota da proposta de revisão da Lei de Anistia. 
     
    
     
    Leia
    abaixo a entrevista. 
     
    
     
    ConJur
    — A senhora está entre os nomes cogitados para ocupar uma vaga no Supremo
    Tribunal Federal. Acredita que vai ser convidada para a próxima vaga
    aberta? 
    Flávia
    Piovesan — Não. Eu fico muito honrada com a possibilidade, mas meu
    compromisso é com os Direitos Humanos, área em que tenho competência para
    trabalhar. Tenho que aprender muito ainda para lidar com as outras áreas. 
     
    
     
    ConJur
    — A agenda do Supremo dá o espaço necessário a temas ligados aos
    Direitos Humanos? 
    Flávia
    Piovesan — Há seis anos, uma pesquisadora norteamericana que acompanha o
    trabalho das cortes supremas brasileira e argentina na temática dos
    Direitos Humanos me indagou quais eram as principais discussões dessa
    natureza no Brasil e eu fiquei constrangida em perceber que poucos eram os
    casos impactantes referentes a direitos fundamentais que já haviam sido
    enfrentados pelo Supremo. Mas isso mudou. A pauta do Supremo se torna cada
    vez mais instigante nesse sentido. Temas afetos à cidadania chegam com
    grande voracidade à corte. Hoje, há debates como a demarcação da reserva
    indígena Raposa Serra do Sol, violência contra a mulher, uso de células-tronco
    embrionárias em pesquisas, união homoafetiva, direito à informação e
    acesso aos arquivos do período do regime militar, reclamados em ação
    contra a Lei 11.111/05, que criou documentos ultra-secretos. 
     
    
     
    ConJur
    — Por que houve essa mudança de cenário? 
    Flávia
    Piovesan — Reputo a três fatores. Um é a extensão da legitimação para
    o uso de institutos como a Ação Direta de Inconstitucionalidade. O rol dos
    legitimados para entrar com essas ações foi ampliado. Outro fator foi a
    maior agilidade e transparência do Supremo. A TV Justiça, por exemplo,
    tornou o tribunal mais palpável, o que encoraja a sociedade a provocar mais
    a corte. O terceiro fator são as audiências públicas e a figura do amicus
    curiae. 
     
    
     
    ConJur
    — Foi um despertar tardio? 
    Flávia
    Piovesan — Nós tivemos a transição política em um ritual lento e
    gradual em direção à democracia. Vários países, quando fizeram o mesmo
    ritual de passagem, fortalecem suas instituições, criaram novos textos e
    também novas cortes constitucionais. Nós não. Adotamos um pacto jurídico
    que é a Constituição, mas não alteramos, na ocasião, o órgão guardião
    da Constituição. Ele foi herdado do passado, com as suas potencialidades e
    heranças de épocas sombrias, ditatoriais. Teve uma composição
    marcadamente civilista, com a liderança do ministro Moreira Alves que, no
    entanto, nunca viu o tema com o coração aberto, com um sentimento
    constitucional. Mudamos tudo com a Constituição, mas a entregamos a um
    guardião antigo. Esse novo órgão renasce hoje — talvez a partir da
    reforma [a Reforma do Judiciário, promulgada pela Emenda Constitucional
    45/04] — com uma nova configuração, uma nova composição. Como
    professora de Direito Constitucional, fico muito feliz em debater temas
    sobre os quais as únicas referências eram de cortes de outros países.
    Hoje é o nosso Supremo quem está fazendo a diferença. 
     
    
     
    ConJur
    — O Judiciário ganhou importância na medida em que o Legislativo perdeu
    crédito? 
    Flávia
    Piovesan — Em certo grau, sim. Há temas que se deslocam da arena do
    Legislativo para a arena jurisdicional. A união homoafetiva, por exemplo,
    é um tema que não ganhou consenso no Legislativo, por isso foi para a
    esfera jurisdicional. A Lei de Anistia, que tanto se falou em revisão, mas
    não houve acordo, foi ao Judiciário por meio de ADPF [Arguição de
    Descumprimento de Preceito Fundamental] do Conselho Federal da OAB. Sempre
    que grupos humanitários se sentem derrotados no Legislativo, vão ao
    Supremo. O próprio presidente do Senado Federal reconheceu que o poder não
    convive com o vácuo. Esses temas acabam sendo enfrentados em outra arena. 
     
    
     
    ConJur
    — O Judiciário ocupa esse lugar adequadamente? 
    Flávia
    Piovesan — Sim. É fascinante ver uma líder indígena tomar a palavra em
    uma audiência e fazer sustentação oral, como no julgamento da reserva
    Raposa Serra do Sol. Este é um Supremo muito mais accessível e
    transparente. Os indígenas, embora não estejam no rol de legitimados para
    propor ADI, chegaram à corte por meio de Ação Popular. Foram ao Supremo
    como cidadãos, para o exercício de um direito político. 
     
    
     
    ConJur
    — É possível haver uma jurisprudência internacional sobre Direitos
    Humanos? 
    Flávia
    Piovesan — Há dois extremos nesse debate: aqueles que sustentam ser a
    cultura a fonte dos direitos e aqueles que sustentam ser o valor da
    dignidade humana, esse mínimo ético irredutível que seria compartilhado,
    em maior ou menor grau, por todos. De um lado estão os universalistas, que
    pregam a existência de uma moral universal, e do outro, os relativistas,
    que entendem que isso é uma visão eurocêntrica e que, na verdade, diante
    do pluralismo cultural, cada cultura teria o seu próprio sistema de valores
    e de moralidade. Há também posições intermediárias, assim como
    universalistas chamados de radicais, fortes ou fracos. Eu me reputo como uma
    universalista, não etnocêntrica, mas pluralista e aberta ao diálogo
    intercultural. Para termos um entendimento correto, nós temos que passar da
    lente que demarcou o “pós 11 de setembro”, que era o choque civilizatório,
    para o “dialogue civilization”. 
     
    
     
    ConJur
    — Como as cortes internacionais podem fazer cumprir suas decisões? 
    Flávia
    Piovesan — Há uma crítica ao Direito Internacional de que ele não teria
    garras e dentes, capacidade satisfatória. Hoje, há um crescente processo
    em que o Direito Internacional passa a adquirir garras e dentes, com a criação
    de cortes internacionais, como o Tribunal Penal Internacional, a Corte Européia
    e a Corte Interamericana. Nas cortes regionais, por exemplo, como a
    Europeia, a Interamericana e a Africana, como a base regional é mais
    uniforme, há um grau maior de legitimidade. Hoje o tema do Direito
    Constitucional é essa crescente abertura ao diálogo, inclusive com outras
    jurisdições. É comum na Europa a corte espanhola se fundamentar em
    julgados da corte alemã, ou o tribunal português fazer menção a julgados
    da corte espanhola. 
     
    
     
    ConJur
    — O Brasil está no mesmo caminho? 
    Flávia
    Piovesan — O sistema interamericano está em uma posição intermediária,
    assim como o sistema africano, mais debilitado e mais recente também. Há
    insistentes esforços para a criação do sistema asiático e árabe. Na África,
    há o caso do Sudão, que se nega a cumprir ordens do Conselho de Segurança
    da ONU de entregar genocidas. A Justiça internacional, na figura do
    Tribunal Penal Internacional, deveria combater a impunidade de crimes como
    esses, mais graves. Hoje, os únicos quatro casos que há no TPI são do
    Congo, Uganda, República Centro-Africana e Sudão. São países que tiveram
    uma descolonização muito recente. Em 1945, havia apenas dois países na África.
    Hoje, depois que a ONU foi criada, há mais de 54. Mas a Justiça não pode
    ser seletiva. Não pode haver qualquer sombra de neocolonialismo. 
     
    
     
    ConJur
    — O fim da prisão em Guantánamo é um passo nessa direção? 
    Flávia
    Piovesan — Estou à espera da concretização da plataforma Obama, que fez
    questão de ter como primeiro ato público o aviso ao mundo sobre o
    fechamento de Guantánamo, prisão que simboliza a negativa da lógica dos
    Direitos Humanos. Os acusados nem têm ideia do porquê estão lá. Não têm
    acesso a advogados, ao contraditório, à ampla defesa ou ao devido processo
    legal. O fechamento de Guantánamo significa não só a restauração da
    legalidade do Estado de Direito, esse despertar para a razão pública, mas
    também simboliza o fim da era Bush, aquela ideia do Ato Patriota, que é
    expressamente a negativa de direitos ao chamado combatente inimigo, com a
    autorização para interrogatórios duros e tortura moderada. O fechamento
    de Guantánamo, em outras palavras, significa tortura nunca mais. 
     
    
     
    ConJur
    — Guantánamo foi tratado pela comunidade internacional com condescendência?
    Sob esse prisma, a reação dos africanos às decisões da ONU não é
    compreensível? 
    Flávia
    Piovesan — Houve derrotas importantes sofridas por Bush no Judiciário
    americano, que invalidaram os tribunais militares de Guantánamo. O papel do
    Judiciário foi decisivo para coibir os piores abusos. Os Estados Unidos
    também sempre obstaram juridicamente que o assunto fosse discutido na Corte
    Interamericana. 
     
    
     
    ConJur
    — Essa disparidade de tratamentos entre diferentes nações não é um
    exemplo de que uma atuação efetiva de um tribunal internacional ainda está
    longe de acontecer? 
    Flávia
    Piovesan — Estamos assistindo a um esforço embrionário de criação da
    Justiça internacional no campo penal. Eu me recordo de quando dava aulas em
    1994 e falava sobre a campanha mundial da Anistia Internacional para a criação
    do Tribunal Penal Internacional. Nem os mais otimistas imaginariam que, em
    1998, haveria consenso para que ele fosse criado e que, já em 2002, já
    tivessem as 60 ratificações necessárias ao Estatuto de Roma. Há um
    grande desafio do TPI para firmar a sua identidade nestes primeiros anos.
    Durante esse início, ele deve atuar com firmeza, integridade e ética para
    ganhar credibilidade. É instigante pensar que 108 Estados já aderiram ao
    estatuto, sendo que ainda não há um julgado ou sentença, apenas ordens de
    prisão esparsas. Aos que criticam, eu digo que é isso ou a lei da selva,
    ou é isso ou é a lei de Darwin, é o forte contra os fracos. O
    multilateralismo, por mais debilidades e limitações que tenha, também tem
    algumas potencialidades e reduz o largo mar de discricionariedade. O Estado
    de Direito é aquele em que o poder desarmado, que é o Judiciário, tem a
    última palavra. Não é a faca, não é a bala, é a caneta, o que pode ser
    ampliado a todas as esferas, local, regional e global. 
     
    
     
    ConJur
    — Essa já é uma ideia consentida mundialmente? 
    Flávia
    Piovesan — O distanciamento está se tornando um pouco menor porque a política
    Bush de unilateralismo começa a ser enterrada. Não há mais espaço para
    ataques preventivos sem qualquer constrangimento por causa da hegemonia bélica
    militar dos Estados Unidos. O discurso de Obama e Hilary Clinton é buscar o
    multilateralismo. Em seu livro The Paradox of American Power, o professor
    Joseph Nye reconhece que, se os Estados Unidos têm um projeto de poder a médio
    ou longo prazo, isso não é sustentável só na bala. Ele deve partir para
    a soft law, para negociações, para a diplomacia. A Hilary tem se valido
    desse autor para determinar a linha da política de Estado. É o poder
    inteligente, capaz de negociar, de ouvir, de dialogar. A política externa
    norte-americana tem se guiado pela importância do diálogo. Os primeiros
    discursos do Obama foram: “Nós temos que ouvir os outros, ouvir os mulçumanos,
    reconhecer as diversidades”. 
     
    
     
    ConJur
    — A efetividade do Tribunal Penal Internacional depende de uma redução
    na disparidade econômica entre os países? 
    Flávia
    Piovesan — Este é um tema em que eu tenho trabalhado bastante. Vou
    representar a América Latina em uma força tarefa da ONU voltada à
    implementação de direito ao desenvolvimento. Um comitê formado por cinco
    pessoas irá discutir como avançar na pauta do desenvolvimento. O grupo será
    liderado pelo professor norte-americano Stephen Marks, da Harvard School of
    Public Health. Há também um professor da Holanda, representando a Europa,
    uma professora do Japão e outra da África. Nós estamos trabalhando com três
    perspectivas: acesso a medicamentos essenciais — como para tuberculose,
    malária e Aids, áreas em que o Brasil tem política exemplares —; alivio
    da dívida, sobretudo a países atendidos pelo FMI, Banco Mundial (Bird) e
    Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bid); e transferência de
    tecnologia. A ideia hoje é que não há ricos sem pobres. Mas será que não
    é possível um desenvolvimento em que todos sejam incluídos ou será que nós
    teremos os subintegrados e os superintegrados? Dados da Organização
    Mundial de Saúde apontam que a pobreza é a maior causa de mortes do mundo.
    É fundamental, quando se fala em desenvolvimento, não só pensar em políticas
    domésticas, mas também nessa relação entre o Hemisfério Norte e o
    Hemisfério Sul, no papel de cada nação nessa nova arquitetura mundial. 
     
    
     
    ConJur
    — Já há em quem detém o poder uma preocupação com uma polícia mais
    igualitária? 
    Flávia
    Piovesan — Temos hoje uma arena muito privilegiada para se pensar isso. Eu
    participo todos os anos do Fórum Social Mundial. No primeiro que foi
    realizado, o presidente Lula acabara de ser eleito e os participantes
    estavam emocionadíssimos. As plataformas econômicas e sociais, antes
    totalmente divergentes, pela primeira vez tinham uma convergência.
    Recentemente, a revista The Economist, que embora liberal, é consistente,
    publicou uma matéria de três páginas louvando propostas do Fórum Social
    Mundial em três frentes: repensar o papel do Estado diante do colapso
    financeiro internacional, repensar os papéis do setor privado e dos
    mercados e elaborar uma nova arquitetura financeira internacional. Cuba e
    China já defendem uma convenção sobre direito a desenvolvimento, querem
    algo mais duro, mais firme. Há outros países que entendem não ser
    adequado classificar esse tema como direito. O desenvolvimento seria uma
    concepção mais abrangente. 
     
    
     
    ConJur
    — Não há como falar em Direitos Humanos hoje sem considerar o
    desenvolvimento econômico? 
    Flávia
    Piovesan — É isso. No Brasil, por exemplo, a pobreza já foi vista como
    crime de vadiagem. Hoje, há projetos que tentam colocar a pobreza como
    violação aos Direitos Humanos. Direitos sociais devem ser vistos como
    direitos, não como generosidade, compaixão ou caridade. Essa é a voz do
    Hemisfério Sul. Quando fiz doutorado em Harvard, em 1995, meu orientador
    dizia que Direitos Humanos são civis e políticos, como liberdade de
    expressão e direito à vida. Direitos sociais, para ele, eram um tema
    transitório, que dependiam de políticas públicas e não estavam na gramática
    do Direito. Nós vivemos em uma ordem macroeconômica muito assimétrica, em
    que os 15% mais ricos detêm 85% da renda e os 85% mais pobres ficam apenas
    com 15% dela. A América Latina, embora não seja a mais pobre, é ainda a
    região mais desigual. E nela, o Brasil é onde a desigualdade é maior que
    em todos os outros. 
     
    
     
    ConJur
    — Isso deságua no Judiciário? 
    Flávia
    Piovesan — Sim. Há certo estranhamento recíproco entre o Judiciário e a
    população. Para a população, o grande problema da Justiça é que ela é
    inacessível. Para o juiz, o problema é o mesmo: a população é distante.
    Dados do IBGE mostram que apenas 30% da população têm acesso à Justiça.
    Estudos da pesquisadora Maria Tereza Sadek apontam que há uma relação
    entre IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] e litigância. As regiões que
    mais litigam são a Sul e a Sudeste porque litigar tem haver com educação
    e percepção dos direitos. 
     
    
     
    ConJur
    — A interpretação dada pelo Supremo quanto à hierarquia
    infraconstitucional e supralegal dos tratados internacionais de Direitos
    Humanos anteriores à Reforma do Judiciário atende às expectativas
    internacionais? 
    Flávia
    Piovesan — A Constituição de 1988 criou um regime jurídico misto, que
    trata de forma diferente os tratados de Direitos Humanos e os demais
    tratados tradicionais. Os de Direitos Humanos têm hierarquia constitucional
    e incorporação automática a partir da ratificação. Os tratados
    tradicionais têm hierarquia infraconstitucional e incorporação não automática.
    Isso porque deve-se tratar distintamente uma convenção pela abolição da
    pena de morte e uma convenção de exportação de abacaxis. Até 1977, o
    Supremo defendia o primado do Direito Internacional em detrimento do Direito
    interno, até que houve o julgamento do Recurso Extraordinário 80.004. O
    Supremo encarou o assunto com uma Constituição do passado e em relação a
    um tema não ligado a Direitos Humanos. A disputa era a Convenção de
    Genebra sobre notas promissórias e notas de câmbio e um decreto-lei
    posterior que era incompatível com essa convenção. Em um longo julgado, não
    unânime, entendeu-se que o decreto-lei merecia a prevalência,
    entendendo-se que havia paridade hierárquica entre tratado e lei e,
    portanto, norma posterior revoga a anterior. Os internacionalistas ficaram
    indignados porque há um ritual para se entrar no jogo internacional e outro
    para sair, que não é simplesmente descumprir um tratado, mas se retirar
    solenemente por meio do instrumento da denúncia. Princípios como boa-fé
    foram esquecidos. Isso durou de 1977 até 1995. Então surgiu no STF um
    pedido de Habeas Corpus tratando de prisão civil para o depositário
    infiel, que invocava a Convenção Americana de Direitos Humanos. O relator
    foi o ministro Celso de Mello, de quem eu sou admiradora, mas com quem
    fiquei decepcionada nessa ocasião. Ele herdou a posição do julgado de
    1977 e levantou a tese da paridade, que foi majoritariamente aceita pelo
    Supremo. Foram votos vencidos os ministros Carlos Velloso, Marco Aurélio e
    Sepúlveda Pertence. Às vezes, os votos vencidos acabavam aderindo à tese
    majoritária e o placar para esse tema era oito a três ou 11 a zero a favor
    da prisão civil. 
     
    
     
    ConJur
    — A virada no ano passado foi radical, então? 
    Flávia
    Piovesan — No julgamento do Recurso Extraordinário 466.343, o placar foi
    de 11 a 0 contra a prisão civil, inclusive com um voto maravilhoso do
    ministro Celso de Mello que, humildemente e com grandeza humana, reavaliou
    sua posição. O Supremo, hoje na voz dos 11 ministros, acolhe a tese do
    regime jurídico misto. Isso é consenso. O dissenso é qual seria o status
    privilegiado dos tratados de Direitos Humanos. O ministro Gilmar Mendes,
    liderando a maioria dos ministros, entende que a hierarquia seria supralegal
    e infraconstitucional. A outra corrente defende a hierarquia constitucional. 
     
    
     
    ConJur
    — Já dá para saber quais os resultados práticos dessa mudança? 
    Flávia
    Piovesan — Desde dezembro até hoje nós temos um novo momento. Isso terá
    um impacto muito grande, primeiro, na divulgação dos tratados e na sua
    aplicação. A primeira convenção que nós tivemos aprovada no novo
    ritual, e que portanto tem status formal de emenda à Constituição, é a
    Convenção para a Proteção dos Direitos das Pessoas com Deficiência.
    Isso aconteceu em julho do ano passado, quando o Decreto Legislativo 186/08
    foi promulgado, em 10 de julho. O Supremo ainda pode avançar nesse tema
    porque a votação foi apertada em relação à hierarquia. 
     
    
     
    ConJur
    — Como lidar com movimentos sociais quando eles extrapolam os limites da
    lei, como no caso dos assassinatos cometidos por integrantes do Movimento
    dos Sem Terra? 
    Flávia
    Piovesan — Eu vejo com muita preocupação a tentativa de criminalizar os
    movimentos sociais. Não há dúvida de que a atuação dos movimentos deve
    se dar com responsabilidade. A sociedade brasileira foi reinventada na
    democratização, quando explodiu o número de organizações não
    governamentais. Os movimentos são novos atores hoje, que sabiam atuar muito
    bem durante a ditadura porque a defesa de Direitos Humanos era contra o
    Estado, denuncista. Com a democratização, houve uma crise de identidade de
    muitos movimentos, que ao invés de denunciar, passaram a ser colaboradores
    do Estado. A discussão agora é como ter autonomia e independência, mas
    também ser prepositivo. À luz dos novos fatos e valores, nós temos que
    nos reinventar sempre. Por outro lado, vejo com preocupação essa inclinação
    em tratar o movimento social com bala. Isso não é compatível com o regime
    democrático. Os excessos têm que ser controlados, mas de uma maneira menos
    truculenta. 
     
    
     
    ConJur
    — Qual o enfoque adequado para a questão da revisão da Lei de Anistia e
    da punição a torturadores? 
    Flávia
    Piovesan — Os países que tiveram as experiências mais exitosas na
    passagem para o regime democrático, que tiveram melhor consolidado seu
    Estado de Direito, foram aqueles que percorreram a Transitional Justice em
    quatros dimensões: acesso às informações, reparação, reformas
    institucionais e Justiça, que significa punições. Se nos compararmos com
    a Argentina, o Uruguai e o Chile, nós ficamos para trás. 
     
    
     
    ConJur
    — Por quê? 
    Flávia
    Piovesan — Há uma proibição internacional absoluta com relação à
    tortura. Ninguém pode admitir tortura e impunidade com relação à
    tortura. É dever do Estado investigar, processar, punir e reparar. Há dois
    casos recentes, um peruano e outro chileno, em que a Corte Interamericana
    invalidou leis de anistia por significarem a perpetuação da impunidade,
    uma injustiça continuada e permanente e por violarem parâmetros mínimos.
    Eu corroboro o que diz o ministro Paulo Vannuchi [da Secretaria Especial dos
    Direitos Humanos] quando ele diz que esse não é um tema do passado, mas do
    presente. Eu, que já era convencida dessa causa, fiquei quase que devota
    quando, no dia 31 de julho do ano passado, em uma audiência pública do
    Ministério da Justiça sobre o tema, me sentei ao lado de uma professora
    aposentada, de cerca de 75 anos de idade, que disse ter três irmãos
    assassinados na ditadura, um deles com indícios de ter tido a cabeça
    decepada entregue como prêmio a militares. Eu saí de lá me perguntando se
    caberia indiferença com esse passado. Será que essa mulher, como a Antígona
    de Sóflocles, não teria o direito sagrado ao luto? É uma tortura psicológica
    não poder enterrar seus familiares. Em qualquer cultura, esse é um ritual
    sagrado. Há povos que enterram, outros que queimam, outros lançam flores,
    mas a ritualização da morte é sagrada. Isso também se relaciona com o
    desarquivamento das informações militares do regime. É nosso direito
    coletivo saber quem somos, qual a nossa História. Não havendo isso, há um
    continuísmo autoritário dentro da democracia. 
     
    
     
    ConJur
    — Que ainda legitima a tortura como aceitável em certos casos? 
    Flávia
    Piovesan — Há um ano, um orientando meu em doutorado, delegado, professor
    da academia de Polícia, me apresentou um projeto. A questão que ele
    levantava era “Por que a tortura persiste sendo a principal forma de
    investigação nas delegacias?” Eu quase caí de costas. Não era Anistia
    Internacional falando, era um delegado assumindo a prática. Isso tem a ver
    com um ranço do passado, que nós não conseguimos cortar. Temos que
    colocar o dedo nesta ferida porque incomoda. Nenhum presidente da República
    quis enfrentar este tema. Todos dizem que é delicado. Ninguém quer
    enfrentar as Forças Armadas, há uma acomodação conveniente. Enquanto em
    outros países há militares que perdem a aposentadoria por esses abusos,
    aqui eles dão nome a praças. O Brasil destoa em relação ao direito à
    verdade. 
     
    
     
    ConJur
    — Como a sociedade percebe essas consequências? 
    Flávia
    Piovesan — No início de março, uma reunião do Conselho dos Direitos da
    Pessoa Humana, em Brasília, contou com autoridades do Rio de Janeiro para
    debater as milícias no Rio de Janeiro. Há uma promiscuidade de forças, em
    que o Estado monopoliza a força e mantém uma relação com o crime
    organizado. É por isso que são necessárias reformas institucionais. Há
    dados que apontam que 22% das armas localizadas com os bandidos no Rio de
    Janeiro vêm das Forças Armadas. Nós herdamos o aparato repressivo tal
    como ele existia, com poucos nuances de mudanças. 
     
    
     
    ConJur
    — Se a Lei de Anistia tem de ser revista quanto aos atos dos torturadores,
    também não deve rever o perdão dado a militantes de esquerda por ações
    terroristas? 
    Flávia
    Piovesan — São dois atos diferentes. De um lado, indivíduos atuavam em
    nome do Estado. Ou seja, a população se desarma, entrega suas armas ao
    Estado, que monopoliza a violência, recebe impostos e tortura essa população.
    Isso não tem sentido. Houve abusos por parte das resistências, mas não
    podemos equiparar. Tortura não pode ser entendida como crime político, então
    não poderia ser alvo de anistia. 
     
    
     
    ConJur
    — A comparação com o regime militar de outros países e em um contexto
    histórico diferente não é desproporcional? 
    Flávia
    Piovesan — Sem dúvida isso deve ser levado em conta, mas a tortura é
    inadmissível sob todos os pontos de vista. O Estado, garantidor de
    direitos, se transforma em assassino. Também não é possível alegar que o
    sujeito seguiu ordens, como se tivesse perdido a capacidade de refletir,
    como se lhe tivesse sido eliminado o juízo ético de identificar o que é
    justo, certo ou errado. A tortura é inescusável. Não há tempo o que
    apague. 
     
    
     
    ConJur
    — A lei de cotas também é uma forme de reparação plausível? 
    Flávia
    Piovesan — Eu defendo as ações afirmativas, mas elas não são o único
    caminho. Também é fundamental apostar em políticas universalistas, educação
    e saúde para todos. Mas é preciso aliviar, remediar uma situação pretérita
    de um forte padrão discriminatório, e também transformar o presente e o
    futuro. Como professora da PUC [Pontifícia Universidade Católica] devo
    ter, em média, 200 alunos. Se entre eles dois ou três forem negros, já é
    muito. O número de afrodescendentes em universidades públicas no Brasil é
    inferior a 3%, um dado pior que os da África do Sul pós-Apartheid. Então,
    nossos territórios são brancos. Por isso é importante democratizar o
    caminho. Se eu, como procuradora, quero ter mais colegas afrodescendentes na
    minha instituição; se como professora da PUC quero ter mais colegas, médicos,
    dentistas, engenheiros negros, o requisito é o diploma universitário. É
    paliativo, mas é uma porta de democratização. Pelo ângulo jurídico é
    absolutamente sustentável, já que a convenção racial permite a adoção
    de medidas especiais temporárias para acelerar o processo de construção
    da igualdade. Além disso, conviver com o diverso é o melhor exercício
    para você se questionar, porque aí se chega a uma grande conclusão. Essas
    construções rompem com a passividade de que isso sempre foi assim e não
    vai mudar. 
     
    
     
    ConJur
    — Essa questão da política de igualdade não insere uma disputa racial
    que não existia antes? 
    Flávia
    Piovesan — Vai haver tensões, sem dúvida. Basta ver o número de
    Mandados de Segurança pedidos por estudantes brancos que tiveram pontuação
    maior nos vestibulares, mas foram afastados em prol de grupos vulneráveis.
    Por outro lado, a racialização e etinização já existem. A pobreza é
    racializada e etinizada. Segundo o Ipea [Instituto de Pesquisas Econômicas
    Avançadas], 74% dos pobres são negros. Meus amigos militantes negros
    sempre dizem que não existe essa história de não saber quem é negro
    porque a Polícia sabe quem é negro quando quer bater. Outro argumento do
    Ipea é que as políticas universalistas não dão conta de estreitar a distância
    que há entre brancos e negros no Brasil. A distância que havia na época
    dos nossos bisavós hoje é a mesma, ainda que a curva seja ascendente, ou
    seja, que um número maior de brancos e negros tenha acesso a educação e
    à saúde. Nada garante que essas políticas vão resolver, mas vale a pena
    arriscar. Obama, sua mulher Michelle, Colin Power, Condolezza Rice e tantos
    outros foram frutos de ações afirmativas nos Estados Unidos. Lá elas
    foram adotadas desde o final da década 1950. Em quatro décadas, triplicou
    a classe média negra. Aqui, as medidas foram adotadas depois em 2001. Ainda
    é cedo para avaliarmos os impactos, mas o que eu tenho acompanhado é que
    os cotistas têm tido uma performance muito positiva, talvez até pelo peso
    da responsabilidade de ter entrado por essa porta. 
     
    
     
    ConJur
    — Não seria mais adequado usar o critério econômico para as cotas, e não
    o racial? 
    Flávia
    Piovesan — Eu sou favorável a que se mesclem critérios econômicos e
    raciais, ainda que eles se confundam, se nós avaliarmos os dados do Ipea.
    Mas, mesmo assim, a distância ainda é evidente. Temos uma maratona, em que
    o ponto de chegada é o mesmo. Só que os brancos largam na frente, então
    é lógico que vão chegar antes. Há urgência em criar as oportunidades. 
     
    
     
    Fonte:
    Conjur, de 4/04/2009 
      
      
      
     
    OAB
    pede que TJ de São Paulo diminua valor de cópia autenticada de processos 
      
    A
    seccional paulista da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) solicitou que a
    Corregedoria do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) reexamine o valor
    cobrado para tirar cópia autenticada de processos. De R$ 0,80 por folha
    autenticada, o preço subiu para R$ 2,10, aumento de 168% . 
     
    
     
    Segundo
    a assessoria da OAB, a entidade considera o aumento excessivo e incompatível
    com uma economia estabilizada. “Tal aumento vem dificultar o acesso à
    Justiça e ao exercício profissional”, afirma o presidente da seccional,
    Luiz Flávio Borges D´Urso. 
     
    
     
    O
    ofício, assinado pela vice-presidente, Márcia Regina Machado Melaré, pede
    que o Tribunal reconsidere o aumento no preço da extração de cópias
    reprográficas de processos. 
     
    
     
    “Solicitamos
    um reexame do aumento face à situação de crise financeira que vive o país
    e um retorno aos valores anteriormente praticados”, explica Melaré. De
    acordo com o OAB, os advogados reclamaram do aumento. 
     
    
     
    Fonte:
    Última Instância, de 4/04/2009 
      
      
      
     
    
     
    Nova
    Luz terá mil moradias populares 
     
    
     
    Uma
    das contrapartidas exigidas pela gestão Gilberto Kassab (DEM) dos futuros
    concessionários da Nova Luz, no centro de São Paulo, será a construção
    de moradias populares para 1 mil famílias nos dois terrenos de 15 mil m² já
    desapropriados, nas Ruas Vitória e Aurora. Cerca de 3.500 pessoas moram na
    região. A diretriz deve ser incluída nas propostas que serão recebidas
    dos moradores e comerciantes da área até terça-feira. O projeto, a maior
    vitrine da segunda gestão do prefeito, será votado em segundo turno no dia
    17, conforme definiu ontem a Comissão de Política Urbana, sob protestos de
    entidades da região e do PT. 
     
    
     
    A
    rapidez no trâmite do substitutivo do projeto Nova Luz enviado pelo
    Executivo à Câmara na semana passada e já votado em primeiro turno segue
    causando indignação nas associações de moradores e em entidades contrárias
    à concessão urbanística de bairros inteiros. "Não se tem hoje
    nenhuma garantia de como vão ficar os moradores da Luz. As pessoas poderão
    ser desapropriadas pelos futuros concessionários, da forma como o texto está",
    criticou o vereador Chico Macena (PT). As propostas de alterações no
    substitutivo serão definidas na terça-feira, na sede da Associação de
    Comerciantes da Santa Ifigênia. 
     
    
     
    "Deram
    muito pouco tempo para a tomada de decisões tão importantes. O governo
    colocou a carroça na frente dos bois", disse Paulo Garcia, que
    representa os comerciantes da Santa Ifigênia - apesar de uma diretriz
    indicar que os oito quarteirões do tradicional reduto de venda de produtos
    eletrônicos devem ser excluídos da desapropriação, os lojistas querem
    que a meta seja explicitada em um novo artigo no projeto. 
     
    
     
    O
    líder de governo, José Police Neto (PSDB), adiantou que uma das mudanças
    será a construção de moradias populares pelos futuros gestores. Sobre o
    comércio, o líder disse que "o objetivo é incrementá-lo, não
    substituí-lo". "São dois terrenos desapropriados que já servirão
    para a construção de moradias populares. Também não existe e nunca
    existiu a intenção de tirar os moradores do bairro", explicou. 
     
    
     
    Ao
    todo, serão desapropriados 750 imóveis na região da Cracolândia, com
    previsão de R$ 2 bilhões de investimentos e criação de 25 mil empregos.
    "Muitos inquilinos e moradores estão em imóveis históricos que não
    conseguiram ser recuperados. Esperamos que a concessão seja um instrumento
    para resgatar o valor histórico desses imóveis", acrescentou Police
    Neto. 
     
    
     
    O
    governo quer aprovar ainda, até o fim de abril, a proposta que concede os
    incentivos fiscais aos futuros concessionários de bairros. A experiência
    da Nova Luz deve ser estendida para áreas degradadas das zonas leste e
    oeste, conforme prevê o governo. O projeto de concessão urbanística também
    precisa passar em segunda votação no Legislativo. 
     
    
     
    Fonte:
    Estado de S. Paulo, de 4/04/2009 
      
      
      
     
    
     
    Pró-Justiça
    contra o calote de precatórios 
     
    
     
    Quando,
    na década de 90, os bancos se encontravam em situação delicada e qualquer
    abalo no sistema financeiro poria em risco toda a economia brasileira, o
    governo Fernando Henrique Cardoso criou o Programa de Estímulo à
    Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer),
    um programa de defesa do sistema financeiro que capitalizou os bancos públicos
    e privados do Brasil. 
     
    
     
    Tal
    programa custou o equivalente a 2,5% do PIB do País, hoje avaliado em R$
    2,7 trilhões. Certamente, o Proer terá permitido que nestes anos de
    2008-2009, na crise do sistema bancário internacional, o Brasil fosse um
    dos poucos países que tenha saído ileso à quebradeira global. Não é de
    hoje que há, no Brasil, outra ameaça de desorganização geral,
    necessitando do socorro público: trata-se da chamada "crise dos precatórios". 
     
    
     
    O
    precatório, como todos sabemos, é o instrumento pelo qual a Justiça, por
    meio de uma sentença final, determina que os Executivos federal, estadual e
    municipal paguem o credor importância determinada. 
     
    
     
    O
    tema jurídico dos precatórios é antigo como instituto do Direito pátrio
    e tem suas origens nas Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas
    surgidas por volta do ano 1500. Já em 1898, o decreto nº 3.084 regulou a
    matéria, porém sem dar garantia de pagamento ao credor. Tornou-se, no
    entanto, objeto de texto constitucional a partir da Constituição de 1934
    (artigo 182). Propugnava-se lá a disciplina da ordem dos precatórios. Foi,
    no entanto, na Constituição de 1988, em seu artigo 33 dos atos e disposições
    transitórias, que houve o primeiro calote oficial à Justiça e a suas
    determinações, preceituando que o pagamento dos precatórios até então
    existentes ocorresse em 8 anos (prestações anuais, iguais e sucessivas). 
     
    
     
    O
    segundo grande "calote constitucional" ocorreu com a promulgação
    da Emenda Constitucional nº 30, de 13 de setembro de 2000, que determinou
    novamente que as dívidas da União, dos Estados e municípios, frutos de
    precatórios até aquele momento julgados, fossem pagas em até 10 anos. Os
    entes federativos nem mesmo assim cumpriram a Lei Maior. 
     
    
     
    Hoje,
    segundo calcula Flávio Brando, presidente da Comissão de Precatórios da
    OAB-São Paulo, os três entes federativos - União, Estados e municípios -
    devem em conjunto algo perto de R$ 100 bilhões. 
     
    
     
    O
    projeto de Emenda Constitucional nº 12, de autoria do senador Renan
    Calheiros (PMDB - AL), no dia 1º de abril foi aprovado por unanimidade pela
    Comissão de Constituição e Justiça do Senado e, no mesmo dia, no plenário,
    em dois turnos, com "aprovação a toque de caixa", seguindo agora
    para votação na Câmara dos Deputados. Vai-se configurar, assim, se
    aprovada, mais um estrondoso calote constitucional, determinando que o
    credor, segundo o presidente da OAB federal, Cezar Britto, leve "100
    anos para receber". 
     
    
     
    Mas
    não é, efetivamente, o instituto do "precatório" que está em
    questão neste momento, mas sim a figura da própria Justiça, cujas decisões
    terminativas não são cumpridas há muitos e muitos anos, solapando seu
    respeito e sua dignidade. Neste momento em que o Brasil pretende ser uma
    ilha de saúde num mundo doente, como poderemos sê-lo se a própria Justiça
    não tem autoridade para fazer prevalecer suas decisões? Que se dirá da
    efetivação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), esse programa
    tão caro ao presidente Lula, que deu-lhe até uma mãe, a ministra Dilma
    Rousseff, para à sua frente protegê-lo? O que assegurará que os parceiros
    do PAC serão ressarcidos num eventual descumprimento do programa pela
    autoridade pública? 
     
    
     
    Acredito,
    pois, que o governo federal deva realizar de imediato o "pró-Justiça",
    injetando R$ 100 bilhões na economia, o que promoverá o necessário
    saneamento da Justiça com a volta do respeito à cidadania. Alguns dirão
    que R$ 100 bilhões é cifra exagerada e que a economia não suportará o
    aumento dos meios de pagamento (o "M4", no linguajar técnico). Em
    fevereiro, o M4 totalizava R$ 2,25 trilhões. Vê-se, portanto, que R$ 100
    bilhões para o saneamento da Justiça significará menos do que 5% (cinco)
    dos meios de pagamento globais do País. 
     
    
     
    Neste
    momento em que o mundo inteiro procura manter o consumo firme e irredutível,
    a fim de que a economia continue bombando, os Estados Unidos concederam,
    ainda no governo George W. Bush, para simples gastos dos contribuintes, US$
    168 bilhões. Felizes os brasileiros, que são credores de R$ 100 bilhões
    do seu erário, e não devedores de seus cartões de crédito, como nos
    Estados Unidos. 
     
    
     
    Penso
    que R$ 100 bilhões terão um significado muito salutar na economia e
    promoverão, por consequência, o pagamento de muitas dívidas dos próprios
    consumidores com o sistema bancário e com os crediários, o recolhimento de
    impostos em benefício dos governos federal, estadual e municipal, bem como
    a promoção do consumo saudável e do investimento agora tão necessário. 
     
    
     
    Em
    artigo de autoria de Antônio José Toffoli, advogado-chefe da Advocacia
    Geral da União (AGU), publicado no jornal Valor Econômico de 4 de
    fevereiro, afirmou ele que "a Advocacia Geral da União garantiu à
    população mais de R$ 255 bilhões para a execução de políticas públicas
    nos dois últimos anos". 
     
    
     
    Se
    a AGU arrecada tantos bilhões para a execução de políticas públicas, não
    é hora de um retorno de R$ 100 bilhões para os credores da Justiça? Ou a
    Justiça só vale para o bem da União? 
     
    
     
    Roberto
    Ferrari de Ulhôa Cintra, advogado, doutor em Direito pela Universidade de São
    Paulo, especialista em Administração de Instituições Financeiras pelo
    IBMEC e pela New York University, é autor do livro A Pirâmide da Solução
    dos Conflitos, editado pelo Senado Federal E-mail: ulhoa@yahoo.com.br 
     
    
     
    Fonte:
    Estado de S. Paulo, seção Opinião, de 4/04/2009 
      
      
      
     
    
     
    74%
    do aumento a servidor é irreversível 
     
    
     
    O
    governo só poderá cortar R$ 6 bilhões nas despesas com a folha de
    pagamentos dos servidores neste ano, caso adie os reajustes prometidos. A
    Folha apurou que, dos R$ 23 bilhões de crescimento nesses gastos, só 26%
    correspondem a reajustes que ainda não entraram em vigor e, portanto,
    poderiam ficar para depois. 
      
    Os
    outros R$ 17 bilhões representam aumentos que já foram incorporados ao
    contracheque dos servidores federais e vão impactar o caixa do governo ao
    longo do ano. A despesa com os 2,1 milhões de funcionários é estimada em
    R$ 157,019 bilhões em 2009. 
    O
    adiamento nos reajustes é uma das medidas que a equipe econômica levou ao
    presidente Lula para equilibrar o Orçamento de 2009 sem precisar aumentar
    os cortes de R$ 25 bilhões já anunciados. 
      
    A
    decisão sobre adiar os aumentos foi postergada, mas a proposta voltará a
    ser analisada em maio, quando o governo será obrigado a reestimar receitas
    e despesas. O pagamento, de acordo com o cronograma acertado entre o governo
    e os sindicatos de servidores, começará a ser feito em julho. 
      
    As
    carreiras que podem ser afetadas por eventuais adiamentos são justamente as
    mais organizadas do funcionalismo público (Banco Central, Receita, Tesouro,
    entre outros). Isso aumentará o desgaste político do governo com a decisão.
    Também há o temor de disputas jurídicas, já que os reajustes estão
    previstos em lei. 
    A
    pressão criada pelos gastos com salários de servidores não é recente,
    mas seus efeitos começam a ficar mais claros com a crise econômica e a
    queda de quase 10% na arrecadação. 
      
    Dados
    do Tesouro mostram que a despesa que mais cresceu no primeiro bimestre foi
    exatamente a com folha de pagamentos: chegou a R$ 27,6 bilhões e
    representou um acréscimo de 25% em relação ao mesmo período de 2008. 
      
    A
    principal explicação para a elevação nas despesas é o aumento no salário
    dos servidores. Desde seu início, em 2003, o governo Lula concede reajustes
    generosos ao funcionalismo. A política de "reestruturação de
    carreiras" teve dois momentos altos, em 2006 e 2008. 
    Às
    vésperas da reeleição, o governo editou uma medida provisória que
    concedeu reajuste a mais de 160 mil servidores (do BC, professores e fiscais
    agropecuários, entre outros). O custo naquele ano foi de R$ 1,3 bilhão, e,
    em 2007, de mais R$ 1,6 bilhão. 
      
    Em
    2009, outras três MPs beneficiaram cerca de 90% dos funcionários federais
    (1,9 milhão de servidores). É parte desse reajuste que o governo deve aos
    servidores neste ano. 
    Essas
    revisões fizeram com que carreiras como a de advogados da União -que, em
    2002, entravam no serviço público recebendo R$ 3.500- tenham garantido
    agora um salário inicial de R$ 14 mil. 
     
    
     
    Concursos 
      
    A
    folha de pagamentos também inchou pela contratação de servidores por meio
    de concursos públicos, embora o impacto seja muito menor do que os
    reajustes. Foram autorizados mais de 100 mil processos de seleção e foram
    admitidos quase 90 mil novos servidores entre 2003 e 2008. 
      
    A
    substituição de terceirizados por servidores concursados também é
    apresentada pelo governo como uma das justificativas para o aumento de
    gastos. Acordo feito com o Ministério Público Federal prevê a troca de
    12.500 servidores até dezembro de 2010. 
    O
    governo já autorizou concursos para 5.000 das substituições previstas e
    até o final do ano deve chegar a 7.500. O restante será selecionado no ano
    que vem. 
     
    
     
    Fonte:
    Folha de S. Paulo, de 4/04/2009 
      
      
      
     
     
    
     
    129
    servidores estão no topo salarial 
     
    
     
    O
    topo da pirâmide na distribuição dos salários do serviço público é
    composto por 129 servidores federais. Nesse já seleto grupo de servidores
    do Executivo, há ainda quatro funcionários que têm direito a desrespeitar
    a Constituição. 
      
    Amparados
    por decisões judiciais, esses servidores podem receber salários mais altos
    que os R$ 24,5 mil pagos aos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal)
    -teto estabelecido na Constituição para os salários pagos pelo governo no
    país. 
      
    O
    maior contracheque da administração pública está na Universidade Federal
    do Ceará. Lá, um servidor com salário de R$ 9.700 conseguiu incorporar
    benefícios de R$ 33,6 mil mensais à sua remuneração. 
      
    O
    governo não chega a pagar os R$ 43,3 mil por mês porque tem direito a
    aplicar uma lei de 1994 que desconta dos contracheques os valores que
    excedem o teto do STF. 
      
    Dessa
    forma, o salário de quase R$ 10 mil do servidor cearense sobe para os R$
    24,5 mil permitidos em lei. É um aumento de 152% em relação ao salário
    previsto. 
      
    Entre
    os que têm salário ilimitado, está um servidor do Ministério do
    Trabalho. Ele recebe R$ 29,4 mil por mês -duas vezes e meia o salário do
    presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Justiça determinou que fossem
    incorporados benefícios de R$ 11,7 mil ao salário e feitos cortes de R$
    44,93. 
      
    Outros
    três servidores também estão nessa categoria. Um no Centro Federal de
    Educação Tecnológica da Paraíba (R$ 26,8 mil mensais), outro na
    Universidade Federal de Minas Gerais (R$ 25,3 mil) e mais um na Universidade
    Federal de Uberlândia (R$ 25 mil). 
      
    Nesses
    casos, o Ministério do Planejamento informa que as sentenças determinaram,
    explicitamente, que não poderia haver desconto para adequação ao teto de
    R$ 24,5 mil. 
    O
    teto para o funcionalismo foi criado em 1998, por meio de emenda
    constitucional. Para evitar dribles à regra, o governo acabou também com
    as vantagens salariais. Mas o limite só passou a ser aplicado a partir de
    2005, quando foi aprovada lei sobre o assunto. 
      
    Na
    prática, sempre que os salários dos ministros do STF são reajustados, há
    um efeito em cadeia nos gastos com pessoal, especialmente no caso do Judiciário,
    em que os salários de juízes e procuradores dependem do valor pago no
    Supremo. Há uma diferença de 5% entre as instâncias. O teto de R$ 24,5
    mil foi fixado em janeiro de 2006. 
     
    
     
    SERVIDORES 
     
    
     
    129 
    servidores
    federais fazem parte do topo da pirâmide na distribuição dos salários do
    serviço público 4 deles,
    amparados por decisões judiciais, têm direito a receber salário superior
    ao de um ministro do STF (R$ 24,5 mil), teto previsto na Constituição para
    salários pagos pelo governo 152%
    é o aumento no salário de um servidor
    cearense, que deveria ter renda mensal de R$ 9.700. 
     
    
     
    Fonte:
    Folha de S. Paulo, de 4/04/2009 
      
      
      
     
    
     
    Serra
    exporta vitrines de sua gestão e amplia presença nacional 
     
    
     
    Um
    dos principais nomes colocados na disputa eleitoral para a Presidência da
    República em 2010, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), tem
    nacionalizado marcas de sua gestão no Estado e exportado para prefeitos e
    governadores projetos que são considerados vitrines de sua administração. 
     
    
     
    O
    governo paulista tem promovido encontros e recebido técnicos e secretários
    de Estado, além de prefeitos e governadores, para detalhar iniciativas
    locais e repassar informações. Em alguns casos, disponibiliza
    gratuitamente materiais, como o sistema da nota fiscal eletrônica e o
    aplicativo para a sessão pública do pregão presencial. 
     
    
     
    Não
    tem sido rara a participação de técnicos do governo em reuniões pelo País,
    onde expõem os projetos paulistas, em setores como educação, economia e,
    principalmente, gestão. É nessa área, aliás, que os tucanos se colocam
    como especialistas. O governador mineiro, Aécio Neves, outro nome do PSDB
    que pretende estar na disputa do ano que vem, tem como carro-chefe de seu
    governo o chamado "choque de gestão". 
     
    
     
    Em
    junho, haverá um seminário na cidade de São Paulo, para o qual foram
    convidados os secretários da Fazenda de todo o País. O objetivo é
    divulgar a Nota Fiscal Paulista, um dos principais projetos tucanos na área
    tributária - ele prevê a devolução ao consumidor de 30% do ICMS
    recolhido pelo estabelecimento -, e firmar parcerias para implementá-la nos
    Estados interessados. 
     
    
     
    São
    Paulo também passou a fechar acordos com outros governos, exportando o
    programa de substituição tributária aplicado no Estado, na tentativa de
    criar mecanismos que minimizem os efeitos negativos da ausência de uma
    reforma tributária ampla. O programa de substituição tributária interna
    (no qual o recolhimento do ICMS é feito no começo da cadeia) passou a ser
    o parâmetro de parcerias firmadas com outros governadores na área tributária. 
     
    
     
    Desde
    2007, quando Serra assumiu o Palácio dos Bandeirantes, foram assinados 13
    acordos que estendem para outros Estados princípios da substituição feita
    em território paulista, que adota o cálculo de margem de valor agregado
    (para calcular o valor do imposto recolhido antecipadamente) e contempla
    mais setores, como o de cosméticos, bebidas e alimentos. Minas será o próximo
    Estado com quem São Paulo fechará um acordo. "Esse método se
    espalhou pelos protocolos firmados com outros Estados. Assim há uma
    uniformidade de regras adotada por todos, o que é o cunho de uma reforma
    tributária", disse Guilherme Rodrigues Silva, coordenador adjunto de
    administração tributária da Secretaria da Fazenda paulista. 
     
    
     
    "Os
    políticos hoje sabem que não adianta fazer programa secreto. Eles querem
    maximizar e dar visibilidade aos seus projetos", afirmou o cientista
    político Ricardo Caldas, da UNB. 
     
    
     
    Considerada
    uma das áreas mais complicadas do governo estadual, a educação também
    tem nacionalizado projetos. A secretária de Educação da cidade do Rio,
    Claudia Costin, adotou os chamados jornais de recuperação, distribuídos
    para os alunos paulistas desde o ano passado. Uma coordenadora adaptou o
    material, batizado lá de Caderno de Apoio Pedagógico, para os alunos
    cariocas - e um capítulo sobre a dengue foi incluído. "Agora estamos
    analisando o bônus por desempenho. Aqui, daremos um bônus maior para os
    professores que atuam nas áreas conflagradas onde há presença do narcotráfico",
    declarou Claudia Costin. 
     
    
     
    A
    Sabesp também tem "exportado" programas na área de saneamento.
    Desde 2007, a companhia fechou convênios de cooperação com cinco
    concessionárias nacionais. A Companhia Espírito Santense de Saneamento
    (Cesan), por exemplo, adquiriu o Aqualog - uma tecnologia que pretende dar
    eficiência à produção de água - para a automação dos sistemas de dois
    municípios capixabas. 
     
    
     
    GESTÃO 
     
    
     
    Mas
    é na área de gestão que os programas tucanos têm tido mais visibilidade
    nacional. O atual governo distribuiu gratutitamente pelo País mais de 7 mil
    cópias em CD do sistema de acompanhamento da sessão do pregão presencial,
    usado para compras públicas. 
      
     
    
     
    Em
    março de 2007, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), visitou de
    surpresa um Poupatempo, programa criado pelo governador Mário Covas (morto
    em 2001) e uma das marcas dos tucanos. Dois meses depois, o secretário de
    Gestão Pública, Sidney Beraldo, foi ao Rio fazer uma apresentação do
    programa aos secretários. 
     
    
     
    Na
    seara tucana, o repasse de projetos tem sido mais natural. Recentemente, o
    subsecretário de Planejamento de Minas, Frederico Melo, veio a São Paulo
    conhecer a Rede Intragov do governo. A governadora do Rio Grande do Sul,
    Yeda Crusius (PSDB), também firmou um convênio para utilizar o cadastro Pró-Social,
    sistema de gestão de programas sociais. 
     
    
     
    Fonte:
    Estado de S. Paulo, de 5/04/2009 
      
      
      
     
    
     
    Defensoria
    entra na Justiça para reduzir fila de espera em postos médicos de SP 
      
    A
    Defensoria Pública do Estado de São Paulo propôs, na última semana, uma
    ação civil pública na Justiça para reduzir a fila de espera para
    consulta com médicos especialistas na rede de saúde municipal, da zona sul
    da Capital. 
     
    
     
    De
    acordo com a defensoria, em cada Unidade Básica de Saúde da região há em
    média de 1.000 a 2.000 pacientes aguardando consultas, exames e
    procedimentos cirúrgicos com especialistas e a espera pode chegar até dois
    anos. 
     
    
     
    O
    pedido liminar é para que a prefeitura, no prazo de 90 dias, realize os
    exames, consultas e cirurgias com especialistas daqueles pacientes que
    aguardam por prazo superior a 90 dias na fila da rede pública municipal, na
    região sul e também daqueles que necessitam de atendimento médico de urgência. 
     
    
     
    A
    ação foi proposta após a Defensoria Pública receber relatos de usuários
    da rede municipal de saúde da demora no atendimento por médicos
    especialistas. Uma das pacientes, por exemplo, aguarda há 10 meses uma
    cirurgia para retirada de vesícula. Antes de levar o caso para a Justiça,
    a defensoria buscou, sem sucesso, diálogo com a prefeitura, visando
    solucionar a questão. 
     
    
     
    Os
    defensores baseiam o pedido na Constituição Federal e na legislação
    nacional, argumentando que “o acesso a um sistema de saúde eficaz,
    adequado ao mínimo existencial, é um direito do indivíduo e um dever do
    Estado”. E também nos números obtidos em informações oficiais da
    prefeitura. 
     
    
     
    De
    acordo com a Prestação de Contas do 3º Trimestre de 2008 da Prefeitura de
    São Paulo, por exemplo, foram contabilizados quase 5 milhões de consultas
    médicas e apenas 20.094 com especialistas. Os números, segundo os
    defensores públicos, “demonstram de forma incontroversa a
    desproporcionalidade entre atendimento inicial e continuidade do
    tratamento”. 
      
    Fonte:
    Última Instância, de 4/04/2009 
      
      
      
     
    
     
    Assembleia
    de SP ignora crise, cria cargos e mantém regalias 
     
    
     
    Em
    tempos de crise econômica e de debate nacional sobre o inchaço dos
    Legislativos, os deputados estaduais de São Paulo parecem seguir alheios ao
    combate do desperdício de dinheiro público. Nos últimos dois meses, a
    maior Assembleia do País promulgou atos que aumentaram cargos na Mesa
    Diretora e mantiveram antigas regalias para deputados, como gabinetes
    especiais para ex-presidente, ex-primeiro-secretário e ex-segundo-secretário,
    com carro oficial e cargos de confiança. 
     
    
     
    No
    Palácio 9 de Julho, os parlamentares que ocupam a vaga de membros titulares
    no comando da Casa (presidente, primeiro-secretário e segundo-secretário)
    não voltam à "vala comum" dos deputados quando seu mandato na
    Mesa termina. Eles têm direito ao gabinete de "ex" pelos dois
    anos seguintes. O benefício existe desde 2003 e não exige que se abra mão
    da antiga sala de deputado "comum". Os parlamentares acumulam as
    duas estruturas e as respectivas regalias. 
     
    
     
    Para
    o funcionamento da sala de "ex", cada deputado pode nomear até
    cinco assessores, no caso do ex-presidente, e até quatro, no caso dos
    ex-secretários. É obrigatório que apenas um funcionário seja concursado. 
     
    
     
    No
    apagar das luzes de 2008, em 29 de dezembro, a Casa, em uma única canetada,
    mais que dobrou esse quadro de funcionários. No último dia 26, uma nova
    publicação recuou aos patamares anteriores. 
     
    
     
    Os
    três ex-dirigentes também têm à disposição um veículo oficial, além
    do que já é concedido a todos os 94 deputados, e cotas de material, xerox,
    correspondência e telefone. 
     
    
     
    O
    custo desses gabinetes é mantido em sigilo. O Estado apurou que apenas o
    gasto com os funcionários é de, ao menos, R$ 11,5 mil para cada sala. Em
    2008, a Assembleia custou aos contribuintes R$ 569,9 milhões, sendo R$
    471,1 milhões gastos com pessoal. 
     
    
     
    O
    curioso é que nem sempre os gabinetes são ocupados por essas três
    ex-autoridades. No último ano, quem despachou na sala de ex-presidente foi
    o deputado Eli Correa Filho (DEM). Ele recebeu a sala do ex-presidente
    Rodrigo Garcia (DEM), que assumiu uma pasta na Prefeitura de São Paulo. Os
    antigos (Eli, Fausto Figueira e Geraldo Vinholi) e atuais beneficiários
    (Vaz de Lima, Donisete Braga e Edmir Chedid) dessas estruturas foram
    procurados, mas nenhum deles atendeu aos pedidos da reportagem. 
     
    
     
    O
    acúmulo de gabinetes para ex-integrantes da Mesa é uma invenção
    paulista. Nem o Senado e a Câmara Federal, que estão no epicentro da polêmica
    sobre o descontrole de gastos públicos pelos Legislativos, adotam essa prática. 
     
    
     
    VICE-PRESIDÊNCIA 
     
    
     
    O
    retrato do desperdício não para por aí. Em fevereiro, a Assembleia
    decidiu engordar os cargos da Mesa Diretora. Foram criados dois gabinetes
    para vice-presidentes, apesar de já existirem outros dois. Na época, o então
    presidente, Vaz de Lima, alegou que era preciso mais substitutos para casos
    de ausência do presidente. 
     
    
     
    Neste
    mês, a nova Mesa Diretora, sob o comando de Barros Munhoz (PSDB), deu o
    passo seguinte na criação dessas estruturas. Definiu as cotas de
    correspondências, telefonia, materiais e xerox e criou os seus respectivos
    cargos, usando aqueles remanescente das salas dos "ex". As vagas
    existiam no quadro da Casa, mas não estavam preenchidas. Por isso, a
    incorporação delas às vice-presidências resultará, inevitavelmente, em
    aumento de despesas. 
     
    
     
    Munhoz
    não considera as medidas um desperdício. "Claro que temos defeitos,
    mas eles são tão pequenos perto das aberrações que vemos na imprensa
    sobre o Congresso." 
     
    
     
    Outra
    regalia, mas esta ao alcance também dos funcionários, é a comodidade de
    ter um consultório de cardiologia na Casa, além do ambulatório médico de
    clínica-geral. Ele atende não só casos de emergência, mas faz consultas
    e alguns exames. Foi criado inicialmente para atender apenas deputados e está
    estrategicamente alocado ao lado do plenário, palco das discussões políticas.
    Há alguns anos, por causa da baixa demanda, o serviço foi estendido a
    todos. A Assembleia não oferece plano de saúde aos servidores. 
      
    Também
    saltam aos olhos as cifras com despesas comuns, como correspondências e
    xerox. Um único contrato da Assembleia com os Correios, no valor de R$ 18,5
    milhões, autoriza o envio de até 3,54 milhões de cartas simples por ano.
    Isso representa uma média de 9.698 unidades por dia. Além disso, cada
    deputado pode pagar e pedir reembolso via verba indenizatória por despesas
    com correios. Apenas em fevereiro - último lançamento de despesas feito
    pela Casa - eles solicitaram ressarcimento de R$ 48 mil para esse tipo de
    despesa. 
     
    
     
    Isso
    sem falar nos gastos com xerox, cópias de documentos e material gráfico,
    que totalizaram reembolsos a deputados de R$ 240,5 mil no mesmo período,
    apesar de todos os gabinetes terem copiadoras e a Casa ter um departamento
    exclusivo para xerox, administrado por um diretor - a Assembleia tem 67
    diretores, média de 2 para cada 3 parlamentares. 
     
    
     
    LAPTOP 
     
    
     
    Os
    deputados paulistas recebem um laptop quando assumem o mandato. Só precisam
    devolver o equipamento se deixarem o cargo. O mesmo vale para os veículos
    oficiais. Um caso curioso chamou a atenção no início do ano. Um dos veículos
    apareceu no estacionamento com as rodas originais substituídas por outras
    de estilo mais esportivo. O veículo, modelo Corolla, ano 2009, foi comprado
    no fim do ano passado pela Casa por R$ 48 mil. Foram gastos R$ 7,2 milhões
    com a nova frota. 
     
    
     
    "Uma
    das rodas trincou ao cair num buraco. Ela foi consertada e todas estão
    guardadas. Quando tiver de devolver, eu coloco novamente. Comprei as rodas
    com meu dinheiro e não há nada errado nisso", disse o deputado
    Luciano Batista (PSB). Segundo o Departamento de Transportes, nada proíbe
    os deputados de mudarem acessórios desde que permitidos por lei. A exigência
    é que o carro, ao ser devolvido, tenha a configuração original. 
     
    
     
    Fonte:
    Estado de S. Paulo, de 6/04/2009 
      
      
     
    
     
     
    Promotoria move ação contra 4 ex-diretores da Nossa Caixa 
     
    
     
    A
    Promotoria de Justiça do Estado de São Paulo moveu ação de improbidade
    contra quatro ex-diretores da Nossa Caixa, entre os quais dois
    ex-presidentes do banco, e duas agências de propaganda contratadas em 2002
    para promover ações de marketing e de patrocínio do banco no governo
    Geraldo Alckmin (PSDB). 
      
    As
    irregularidades foram reveladas pela Folha numa série de reportagens
    publicadas a partir de dezembro de 2005. 
      
    Segundo
    a acusação, durante um ano e oito meses, a Nossa Caixa operou sem contrato
    formal com as agências Full Jazz Comunicação e Propaganda Ltda. e Colucci
    & Associados Propaganda Ltda. O Ministério Público também sustenta
    que as agências prestaram serviços por valores que superam os limites da
    Lei de Licitações. 
      
    A
    ação, distribuída à 12ª Vara da Fazenda Pública, foi proposta contra
    Valdery Frota de Albuquerque, presidente do banco à época dos fatos;
    Waldin Rosa de Lima, seu assessor informal; Carlos Eduardo da Silva
    Monteiro, ex-diretor jurídico e ex-presidente; Jaime de Castro Junior,
    ex-gerente de marketing do banco, e contra as empresas de propaganda. 
    O
    Ministério Público pede que todos façam o ressarcimento de R$ 49,2 milhões,
    além do pagamento de multa de R$ 98,5 milhões, perdas de eventuais funções
    públicas e suspensão de direitos políticos. 
      
    Denúncia
    anônima enviada à Promotoria em setembro de 2005 apontava duas suspeitas:
    a operação sem contrato, e o fato de que deputados da base aliada do
    governo tucano teriam sido beneficiados na distribuição de recursos para
    publicidade do banco. A ação trata apenas da primeira suspeita. 
      
    Em
    abril de 2006, o Tribunal de Contas do Estado rejeitou a tese de "erro
    formal" nos contratos com as agências Full Jazz e Colucci. A tese foi
    sustentada pelo ex-governador Alckmin, quando os fatos foram publicados pelo
    jornal. 
      
    Em
    decisão unânime, o TCE julgou que houve "afronta à legalidade e
    moralidade" nos "ajustes verbais" com as duas agências. Também
    entendeu que houve "desvio de finalidade" na veiculação de anúncios
    da Nossa Caixa "em veículos ligados a deputados estaduais". 
      
    De
    acordo com os promotores Roberto Antonio de Almeida Costa e Sérgio Turra
    Sobrane, da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social, os
    contratos entre o banco e as duas agências de propaganda foram firmados em
    15 de março de 2002, pelo prazo de 18 meses, e deveriam ter vigência até
    14 de setembro de 2003, mas foram executados até junho de 2005, sem
    prorrogação formal dos prazos. 
      
    Durante
    a vigência do contrato, as duas agências prestaram serviços em valores
    30,88% maiores que o total contratado, o que contraria a Lei de Licitações.
    Entre setembro de 2003 e junho de 2005, elas prestaram serviços sem
    cobertura contratual no valor total de R$ 45,5 milhões. A Promotoria pede
    ainda a anulação dos atos administrativos. 
     
    
     
    Fonte:
    Folha de S. Paulo, de 6/04/2009
      |