ASSOCIAÇÃO DOS PROCURADORES DO ESTADO DE SÃO PAULO

 

   

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PROCURADORIA

OUTUBRO DE 2003

Nomeações adiadas mais uma vez

LÍVIA RIBEIRO DE MOURA ARAGÃO


Associação, sindicato e aprovados mobilizam-se

Ao que tudo indica os 155 aprovados no último concurso para procurador do Estado de São Paulo, homologado em dezembro do ano passado, terão de continuar aguardando pelo menos mais quatro meses para serem nomeados. O último relatório fiscal (o próximo sai em janeiro) mostrou que as despesas do Estado com pessoal entre maio e agosto ultrapassaram em 0,44% o limite fixado pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Segundo o procurador-geral adjunto, José do Carmo Mendes Junior, as contratações só ocorrerão quando os gastos forem inferior ao limite legal.
“A Procuradoria Geral do Estado (PGE) carece de profissionais e o governo está ciente. Porém, temos de agir na legalidade”, afirmou Mendes Junior, ao desconsiderar a hipótese de o concurso caducar.


Glauber Callegari

O último concurso com três fases consideradas “dificílimas”, foi iniciado em setembro de 2002 e reuniu cerca de 11 mil candidatos que disputaram apenas 120 vagas. Enquanto as nomeações não são feitas, dos cerca de 1.500 cargos previstos em lei, 600 continuam vagos. As últimas contratações ocorreram em 1998 e desde então apenas cem foram preenchidos. Só entre maio de 2002 (quando o concurso foi autorizado) e agosto deste ano 24 procuradores deixaram o cargo por aposentadoria, exoneração ou falecimento. A tendência é diminuir ainda mais o quadro até o final do ano, já que a Reforma da Previdência vem acelerando as aposentadorias.
A Associação dos Procuradores do Estado de São Paulo (Apesp) e o sindicato da categoria, juntamente com uma comissão de aprovados no concurso, vem deflagrando campanhas visando pressionar o governo estadual a nomear os novos procuradores. Houve dois protestos na Assembléia Legislativa paulista, além da veiculação de mensagens pagas no rádio.


José Damião Trindade

Para o presidente da Apesp, José Damião de Lima Trindade, as alegações do Estado não são convincentes. Segundo ele, os vencimentos dos novos procuradores representariam uma elevação de 0,003% das despesas com pessoal, já que grande parte dos cerca de R$ 4.700,00 (salário inicial) refere-se à divisão dos honorários. “É uma tolice o retardamento das nomeações, pois além de prejudicar o atendimento jurídico à população carente, contribui para a queda na arrecadação da dívida ativa”, avalia.
Trindade destaca que os convênios de assistência judiciária gratuita mantidos pela PGE para suprir a falta de pessoal geram despesas de aproximadamente R$ 200 milhões ao Estado — “gasto que poderia ser evitado se houvesse procuradores em número suficiente”. “O acréscimo de despesas para o Estado seria ínfimo e a economia, significante”, avalia.


Marcos Fábio Nusdeo

Segundo ele, o cálculo com pessoal é impreciso em função de relacionar despesas indevidas, como a contratação de terceiros. Mesmo assim, de acordo com o presidente da Apesp a Lei de Responsabilidade Fiscal não tem impedido outras contratações. No primeiro semestre, por exemplo, foram preenchidas 244 vagas na secretaria de administração penitenciária, entre elas as de motorista, auxiliares administrativos e guardas de muralha. Além disso, o governo vem promovendo concurso para delegado (100 vagas) e já anunciou a abertura de outro para selecionar 50 mil professores para trabalhar no início do ano letivo de 2004. “Não negamos a importância dessas funções para o Estado, mas já passou da hora de se atentar também para a importância da nomeação dos novos procuradores”, observa.
Ao contestar, Mendes Junior afirmou que os concursos e as contratações estão dentro das “exceções previstas na própria Lei de Execução Fiscal para as áreas de segurança pública, saúde e educação”. Entretanto, segundo Marcos Fábio de Oliveira Nusdeo, diretor-financeiro da Apesp, além de os cargos de motorista não estarem previstos na exceção, as nomeações só podem ser feitas em casos de aposentadoria ou falecimento.
Nusdeo acrescenta que devido a carência de procuradores os postos de atendimento da Procuradoria de Assistência Judiciária (PAJ) foram fechados em Suzano e Poá, no interior, e em São Miguel Paulista e Tatuapé, na capital. A subprocuradora geral da Assistência Judiciária, Mariângela Sarrubbo, alega, por sua vez, que os postos foram “apenas remanejados para outras regiões, visando um melhor aproveitamento”.
Enquanto especula-se que o adiamento das nomeações pode ter motivos políticos em função da Reforma da Previdência (para que os procuradores comecem trabalhando no novo regime) e de 2004 ser ano eleitoral, os aprovados continuam na expectativa. É o caso do advogado Glauber Callegari, 28 anos, aprovado em 24º lugar. Formado pela PUC-SP, fez um ano e meio de cursinho preparatório e depois estudou por conta própria para concorrer ao cargo que sempre sonhou. Nesse meio tempo, passou no concurso da Advocacia Geral da União, mas preferiu aguardar a nomeação na PGE. “Não tomei posse porque a previsão era de que assumiria como procurador até abril, mas acabei ficando sem nada”, lamenta.


Fonte:
Tribuna do Direito (outubro de 2003).